O SONHO DE UM OREIA
Mais um traçado. Só faltava isto para encher as sapatas. O Suor escorria pela testa, sua camisa ensopada estava grudada ao corpo. Afinal foram 12 massadas de concreto, os braços já estavam muito doloridos.
- Ei, Oreia, falta quinze pra meio dia. Vai buscar a marmita! Gritou o pedreiro.
- Já vou Seu Zé! Respondeu o jovem largando a enxada.
Sossegadamente caminhou até a torneira, girou a válvula, lavando as mãos e o rosto. Por fim, meteu a cabeça n’agua gelada, penteando os cabelos com a ponta dos dedos.
- Mas é uma febre tife, ô bicho da gota, vai buscar o de comer! Mais uma vez gritou o pedreiro.
- Sim, já estou indo! Respondeu o rapaz saindo apressadamente.
Caminhando às pressas, tirou o celular do bolso, verificando aliviado: 12h: 02min. Já está na hora, pensou o jovem sentando numa pilha de tijolos na calçada. O prédio que estava construindo projetava uma maviosa sombra sobre os tijolos. Cansado, sentou-se.
Mal havia se aconchegado sobre os tijolos e já vinha o motivo de sua inquietação diária. Virando a esquina, seguia alegremente um trio de garotas, de um colégio próximo. O rapaz rapidamente deu um salto, fazendo uma pose, à la malandro, apoiando uma das mãos na cintura e outra na pilha de tijolos. Mas quase lhe faltavam forças nas pernas, quando o adocicado perfume penetrou em suas narinas.
A dona da sedutora fragrância era uma linda jovem de cabelos castanho-claro, olhos amendoados, e uma pele branca como leite. Seu uniforme de colegial propiciava pensamentos fetichistas, o que fazia o jovem ficar paralisado.
Psiu, Psiu! Era a única coisa que conseguia fazer após as jovens passarem por ele. Elas, por sua vez, retribuíam com modestos sorrisos, pequenas reboladas provocativas. Para o jovem era como ganhar o dia, aqueles pequenos flertes. Mas quando elas sumiam no fim da rua, a magia acabava. Ele voltava a ser um mulato, nordestino e servente de pedreiro. Nunca conseguiria namorar uma moça rica, nem mesmo pôde ir à escola, era apenas mais um oreia numa construção em São Paulo.
Grande captura da realidade. Um pouco preconceituoso, mas real. Quem nunca viu esta cena na vida? Parabéns Arauto Soturno! Um dos maiores poetas contemporâneos.
ResponderExcluirP.S: Poderia postar os antigos sonetos do recanto das letras.
Quanta genialidade na composição desta crônica. Um belo retrato do cotidiano de vários brasileiros. Quando será que o quadro irá mudar em nosso país? Parabéns ao escritor estou ansiosa por mais textos, que o blog continue neste ritmo :)
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