domingo, 15 de abril de 2012

A vida é assim

A vida é assim

 Jonas se achava o máximo. Garanhão, não deixava passar nem um rabo de saia sem que tirasse uma lasquinha. Bom de papo e bonito, ele achava que podia pegar todas as mulheres que queria.
O único problema era que o espertinho, casado com a filha do patrão, tinha medo que ela descobrisse seus casos e lhe tirasse a boa vida. Por isso, naquela noite ele estava dirigindo e quebrando a cabeça para inventar mais uma boa desculpa para Sandra.
Entrou na Alameda Santos, e quase morreu de susto, quando viu a sua frente aquela figura horrível. Freou instintivamente, fechou os olhos, pensando que o que vira era fruto da sua imaginação; mas, ao abri-los novamente, viu que aquela coisa estava sentada a seu lado, no banco do passageiro.
_ Quem é você? Sai do meu carro, agora!!!!!!
_ Não me reconhece Jonas?
_ Claro que não, que brincadeira é essa? Ou melhor, tira essa fantasia ridícula, palhaço!
_ Acha mesmo que eu sou uma fantasia?
_ Desce do meu carro vai, sai, sai!
_ Sendo assim, apresento-me formalmente: Prazer, Jonas. Sou Morte.
Jonas riu.
_ Ô, palhaço! Você não tem mais nada que fazer, não? Me deixa em paz, cara. Vai procurar outro pra encher, vai se...
_ Serei rápido e direi uma vez só, portando, preste atenção.
_ Vai se... – num gesto brusco, Jonas tentou abrir a porta do carro pra fazer o cara descer, mas sentiu um arrepio paralisante na espinha.
_ Como disse, serei rápido. Você é um adúltero, mentiroso, aproveitador, enfim, posso passar horas aqui falando de seus defeitos, ou melhor, seus pecados. Mas, muitas vezes, sou benevolente e quero fazer um acordo com você.
Jonas, que não conseguia mais dizer uma palavra, só assentiu com a cabeça.
_ Pare de trair sua mulher, ou eu o levo comigo. Você tem o prazo de dois anos para me provar que está regenerado. Findado o prazo eu volto, e, adoraria levá-lo comigo. Mas, se você conseguir controlar sua luxúria, e provar-me que pode ser um homem fiel, deixarei que viva com sua esposinha, por muitos e muitos anos, ok?
Por algum motivo, Jonas sabia que aquilo era uma experiência real apesar de parecer loucura, e concordou de imediato. Com um riso irritante, a figura desapareceu, deixando um cheiro bem desagradável dentro do carro.
Chegando a casa, Sandra já dormia. Resolveu então, que pela manhã, daria uma desculpa qualquer caso ela perguntasse alguma coisa, senão ficaria quietinho.
Teve um sono agitado, muitas vezes, pensou ter visto aquela sombra em seu quarto, por fim, levantou molhado de suor.
Depois do banho, Sandra já o esperava para o café.
_ Bom dia, querido!
_ Bom dia, meu amor! – respondeu ele, beijando-lhe a testa.
Em silêncio, tomaram o café e Jonas observava sua mulher pelo canto dos olhos. _Meu Deus! – pensou – vai ser dureza encarar essa sem dar nenhuma escapadinha. Não vai ser fácil, não!
_ Que foi, meu amor? Parece estar preocupado com alguma coisa.
_ E estou... Quero dizer... Tenho alguns problemas pra resolver com urgência no escritório. Até mais tarde.
No caminho para o escritório Jonas, pensou nas possibilidades. Poderia pedir o divórcio, sairia com quem quisesse e não seria mais um adúltero. O problema é que com certeza, perderia a boa vida, o vidão que conquistara as duras penas, à custa de suportar aquele tribufu, de aguentar a gozação dos amigos por ter casado com a bicha feia, e tudo mais. Não, isso não! Virava um celibatário, mas, não perderia a boa vida por nada.
E foi assim, com sofrimento, que ele foi arrastando aqueles dois intermináveis anos, na esperança de que a Morte se convencesse e principalmente se compadecesse dele, que passou todo o tempo, fazendo sexo de olhos fechados, pra não correr o risco de brochar. E pior que isso, muitas vezes, ter que implorar pra dona Feia, fazer amor com ele. Quem sabe, a Morte me libera desse acordo.
Distraído em seus pensamentos, assustou-se quando percebeu que sua secretária praticamente gritava seu nome:
_ Seu Jonas.
_ Desculpe, estava distraído.
_ Seu Jonas, o Dr. Alberto ligou e disse para o senhor ir imediatamente pra sua casa.
Jonas desconfiou do tom grave usado pela moça.
_ O que aconteceu?
_ Não sei explicar, ele não me disse. Só pediu pra avisá-lo que é urgente.
Antes que ela terminasse de falar, ele já tinha saído.
Quando chegou a casa, deparou-se com todos chorando, procurou por Sandra e não a viu em lugar algum.
_ Onde está a Sandra, o que aconteceu?????
_ Sinto muito Jonas, mas nossa menina se foi!
_ Foi????? Pra onde???????? Do quê vocês estão falando?
_ Ela morreu Jonas, a empregada encontrou-a morta na cama. Acho que morreu dormindo...
Jonas subiu as escadas com o coração saindo pela boca. Hoje fazia exatos dois anos do seu encontro com a Morte. Não conseguia entender, por que aquilo estava acontecendo. Quando abriu a porta do quarto Sandra parecia dormir, deitada de lado, como gostava. _ Meu Deus!!!!!!!!!!! – pensou – o que é isso???????????
_ Ela não cumpriu o acordo.
Jonas virou-se e deu de cara com a Morte novamente.
_ O quê??????
_ Ela não conseguiu, não cumpriu o acordo.
A cabeça de Jonas rodava, ele não estava entendendo nada.
_ Que acordo??? Do quê você está falando???????
_ Simples, meu caro. No mesmo dia que te visitei pela primeira vez, visitei também sua mulher. Propus a ela o mesmo tipo de acordo, e como você mesmo pode ver, ela não o cumpriu. Não conseguiu parar de te trair, saia com o jardineiro, o motorista, até com seu amigo Serginho. A minha parte no acordo, como você pode ver eu cumpri.

Edina Cristina Algarve Garcia
1º NA - Pedagogia

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