sábado, 24 de março de 2012

Conselhos Para a Velhice Iminente

Eu costumava visitar minha sogra uma vez a cada quinze dias, mesmo quando não ia junto. Acho que ele se sentia feliz quando eu fazias essas visitas, pois, creio eu, raras noras visitam suas sogras de livre e espontânea vontade. Muitas vezes, nem de má vontade...

As horas pareciam não passar durante as visitas à casa de Dona Agnes. E disso meu marido não sabia, ou sabia e nunca dizia nada.

Era sempre o mesmo ritual: antes de sair para o trabalho, eu o avisava de que iria visitar sua mãe. Ele abria um sorriso e assentia. Chegava na casa da D. Agnes, recebia um abraço tímido, respondia algumas perguntas sobre amigos e família, me sentava para o café. A excelente Agnes sabia como fazer as horas do café se arrastarem por uma eternidade. E entre um biscoito e um gole de café; ouvia atenta às mesmas queixas:

--- Não aguento mais envelhecer e ver meus filhos cada vez mais longe de mim.

Além disso, ouvia muitas sugestões do tipo:

--- Por favor, me traga netas. Já temos muitos homens na família. Homens nos abandonam.

Recebia conselhos...

--- Eu estou achando o Armandinho muito “matusquela”. Coitadinho do meu filho. Porque você não aconselha a arrumar um outro emprego?

Era sempre assim: saía da casa da minha sogra sem proferir muito mais do que quatro palavras: oi, tchau, até logo. Estava habituada a ouvir mais do que falar naquele endereço.

--- E então, como está a velha?

Sempre a mesma pergunta que sempre tinha a mesma resposta:

--- Bem. Está envelhecendo...

Certo dia, minha sogra me disse coisas diferentes das quais costumava dizer. É que me assustaram.

---O início da velhice de uma mulher é uma promoção do marido. Quando seu finado sogro foi promovido na empresa em que trabalhava, não tinha tempo para mim. Daí meus filhos achara, que era hora de arrumar uma mulher para me substituir em suas vidas. E começaram a trabalhar, daí surgiu você e a Dorinha, a Glória... fico me perguntando qual das três cuidará de mim quando nada mais me restar.

E acrescentou:

--- Quando meu marido foi promovido, passei a visitar mais a minha sogra. Ela era a companhia perfeita para o meu envelhecimento...

Aquilo ficou nos meus pensamentos. Cheguei em casa naquela tarde e enquanto fazia o jantar, percebi que meu marido estava ao telefone há mais de uma hora. Ele não havia me perguntado como tinha sido a visita. Quando finalmente desligou o telefone, veio até mim, abraçou-me, beijou-me e disse:

--- Fui promovido.

Ele continuou falando, mas o tempo para mim parou ali, naquelas duas palavras.

Daquele dia em diante, visitava Agnes diariamente. Ela nem perguntava o porque. Apenas me deixava entrar e falava, gesticulava, xingava e criticava sem parar. Já sabia porque estava me recebendo todos os dias. Meu marido se incomodou com o tempo.

--- Você já nem se importa conosco. O que você faz todos os dias com aquela velha que só sabe resmungar?

--- Estou assistindo aulas de orientação para a velhice, meu amor.

Depois disso, continuei sovando a massa do pão predileto da Dona Agnes.



Nicole Sofia Hatzis é aluna do 3NA de Letras na UniABC-Anhanguera. Carismática, inteligente e futura professora de Língua Portuguesa. 
E-mail para contato: nickdollbaby@hotmail.com
Facebook: http://www.facebook.com/profile.php?id=100003055011972 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Cala-te - Marília Gabriela

Cala-te coração sem rumo.
Cala-te sociedade sem juízo.
E traga a luz para o escuro
Para sairmos desse nosso prejuízo.

Vós sois o mal que aflinge a juventude
Vós sois as regras que maltratam a liberdade
Vós sois a falta de virtude, igualdade e atitude.

Chega de repreensão aos pensamentos gloriosos dos jovens
Chega de incumbir-nos ao autoritarismo.
Deixe-nos soltar a voz, a música e a poesia,
E pare de cavar a nossa cova
Nas suas idéias de anti-democracia.

Marília Gabriela é aluna do 3NA de letras na Uniabc-Anhanguera. Sempre vestida de preto guarda na sua timidez uma vontade louca de gritar ao mundo seus protestos. E-mail: gabriela.marquesine@hotmail.com
Facebook: http://www.facebook.com/profile.php?id=100001686113983 

Um conto em três partes... essa é a primeira.

Dono



Um homem estava sentado num banco, embaixo de uma árvore. Tinha os olhos grandes e ferozes, como os de um leão, e os cabelos moldavam-lhe o rosto como uma juba. Seu rosto era sério, e ele, dedicado a seus pensamentos, mal percebeu a chegada de uma mulher. A jovem sentou-se a seu lado e ficou observando-o por uns instantes.
-         Ei, posso falar com você um minuto? ela perguntou.
Ele virou-se para ela, e com o olhar mais irado que tinha, respondeu:
-         Já está falando, não está ?
-         Bem, é que eu ...
-  Você não percebe que eu estou muito ocupado?
-         Eu sei, mas é que ...
-         Se você soubesse, não me interromperia!
-         Mas, eu sei.
-         Sabe nada. Você veio aqui para perturbar o meu silêncio e a minha concentração.
-         É exatamente sobre isso que eu quero falar!
-         O meu silêncio ?
-         É que o seu silêncio, ou melhor, os ecos dele, chegaram até lá em cima, e ...
-         Como você pode saber do meu silêncio? Que história é essa ?
-         É que eu ...
-         E essa sua fantasia? Não percebeu que está quebrada ?
-         Fantasia?
-         É, essas suas asas de anjo. Por quê não consertou antes de vestir? Ah, já sei. É uma fantasia de anjo estilizada. Sei, sei, anjo com uma asa só. Que tipo de anjo é mesmo ?
-         Mas eu não estou vestida de anjo.
-         Ah, então devo ter bebido mais do que eu penso.
-         Essa asa é de verdade!
O homem riu alto, como não ria há um certo tempo.
-         Gostei da sua brincadeira. Muito espirituosa. Vou até perdoar você ter interrompido meus pensamentos.
-         Mas eu estou falando a verdade! Quer tocar na asa?
-         Não, eu tenho mais que fazer. Me dê sossego!
-         Olha, eu tenho um recado pra você.
-         Recado de quem ? perguntou, mostrando certa indignação.
-         Recado do pessoal lá de cima.
-         Já sei. Você vai dizer que é um anjo enviado por Deus, e que ele me ama. Já assisti essa série na televisão. Você tinha começado tão bem, eu tinha até gostado da brincadeira! Você poderia ter inventado algo mais original pra me dizer.
-         Mas, é que você não me deixou terminar de falar...
-         Desculpe. Tá bem, anjinho da asa quebrada, fala.
-         Mas eu não sou anjo!
-         Se não é anjo, então por quê veio interromper meus pensamentos ? Se é pra dizer que Deus existe, perdeu seu tempo, porque eu já sei isso.
-         Eu sei que você sabe.
-         Então por quê interrompeu meus pensamentos ? Não sabe que meus pensamentos e meus sentimentos são muito importantes ?
-         Eu sei, conheço uma boa parte dos seus sentimentos.
-         Acho que não conhece, não. Porque se conhecesse saberia que ... Espera aí, que espécie de anjo é você?
-         Mas eu não sou anjo!
-         Então por quê essa asa ?
-         Não sei. Só sei que a tenho. Eu gosto dela.
-         E não sabe por que tem?
-         Não. Acho que é vontade de voar.
-         Que adianta voar se você não é um anjo?
-         Não sei. Eu não sei tudo.
-         Gostaria de ser um anjo?
-         Não sei. Acho que teria de ser muito humana para ser um anjo, e eu não sou tão humana assim. Quer dizer, eu teria que compreender muito as pessoas, e  isso não é fácil.
-         O que você é, então?
-         Um ser humano, como você.
-         Mais uma do jardim das espécies ...
-         Espera, eu tenho uma coisa pra te dizer!
-         Sei, um recado.
-         É, um recado.
-         Do povo lá de cima.
-         É, do povo lá de cima.
-         Vai, fala. Que é que eu fiz de errado agora ?
-         Nada, você não fez nada. Só me pediram pra enviar essa mensagem.
-         E qual é ?
-         Me pediram pra falar sobre ... sobre o amor.
-         O quê ?
-         Me pediram pra dizer que o amor foi feito pra você.
-         Só isso ?
-         Só.
Um segundo de pensamentos cortou o ar.
-         Eu tenho que pensar nisso. Você pode me deixar sozinho agora?
-         Tá, mas eu volto.
-         Por quê ? Pra quê?
-         Porque eu gostei de você.
E antes que ele começasse a gritar “vai embora!”, ela saiu dando uma ruidosa gargalhada.


Maiaty S. Ferraz

domingo, 18 de março de 2012

Outros braços e mãos do blog...

Os alunos Rodolfo Andrade e Érica Gusmão, do curso de Letras, vão ser meus braços e mãos extras na condução desse Blog.
Aguardem as postagens deles. Prometem.

Muita inspiração para todos!
Maiaty S. Ferraz
Supervisora do Grupo de Escritores da UniABC-Anhanguera

quarta-feira, 14 de março de 2012

Apenas para começar...

Sejam bem-vindos ao Blog do Grupo de Escritores da UniABC-Anhanguera!

Deixo aqui meus versos, e aguardo os outros que nos seguirão:

Que a poesia e a prosa
possam pulsar
possam reinar
sempre
sobre as lavras inúteis...

Maiaty S. Ferraz
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